terça-feira, 11 de agosto de 2009

Um sonho realizado

Pra quem não sabe, eu sou redatora publicitária, profissão conhecida também como ‘trabalho escravo reconhecido pelo ministério do trabalho’. Redator é aquele cara que não sabe mexer no Corel, não tem noção de Photoshop, não sabe fazer orçamentos e nem tem idéia de que monte de ‘x’ é aquele numa tabela de mídia. O mais perto de planejamento que ele chega, é quando joga War. Aí, ele resolve ser redator e muitas vezes, nem escrever ele sabe.

O redator está para a agência de publicidade assim como o cocô está para o cavalo do bandido. Quando o estagiário está ocupado fazendo alguma coisa, é ele quem busca o café da galera da criação. Por isso, na minha curta trajetória de redatora, estando na terceira agência, eu percebi uma coisa: redatores nunca tem boas cadeiras. Normalmente, a cadeira do diretor de arte é alta, confortável, quase te abraça quando você senta nela. Uma delícia. A do redator, não. Diz a lenda de que em algumas agências, o redator é obrigado a sentar em pequenos tocos de bambu. É o que dizem.

Então, o redator tem dois objetivos na sua carreira: levar Cannes e ter uma cadeira igual a do diretor de arte. Objetivos igualmente esdrúxulos e inalcançáveis. Viramos noites trabalhando, desenvolvemos campanhas legais, nos estressamos, tudo em busca da realização do sonho da cadeira própria. O leão em Cannes é outra história, afinal, ele não depende da boa vontade do seu chefe. Você se esforça, volta pra casa com dores nos ombros, nas costas, descobre que tem artrite, artrose, tendinite, bursite e tudo o mais. Mas está lá, na cadeira que sobrou da última reforma da agência.

Hoje, aconteceu algo que eu não esperava que fosse acontecer antes dos meus 35 anos (de carreira, que fique claro). Eu ganhei uma cadeira igual a do diretor de arte. Sério, fiquei uns 5 minutos observando ela, a cadeira, linda e absoluta. Reparei seu design atraente, passei os dedos por todas as suas curvas, senti a maciez do tecido. Até que eu sentei. Neste momento, as nuvens de abriram e do céu desceram anjos tocando arpas douradas.

Ela é maravilhosa, tem rodinhas, gira, encosto alto, apoio pros braços! Eu poderia morar nessa cadeira. Hoje, eu recebi o maior reconhecimento que um redator publicitário pode querer: uma cadeira. Agora, confortavelmente instalada, criar coisas dignas de um leão em Cannes será fácil. Ou não.

Com vocês, ela, a minha cadeira nova:

Um comentário:

Laura Peruchi Mezari disse...

Mas como que uma redatora que escreve textos tão legais não é reconhecida? Espero que a cadeira seja apenas a primera de muitas conquistas (pela descrição, foi uma baita conquista). Beijos Tuty, adoro seus textos!